Friday, June 29, 2007

GRUPO IV


Ele apareceu no meu apartamento, já era noite avançada, mas não me espantava porque se tinha tornado rotina.
Ele era um homem ocupado e por isso só tirávamos um tempo p’ra nós nessa altura.
Mas, a rotina leva-nos a discutir. Eu digo muito e ele pouco.
Há uma coisinha a que chamam destino que se encarrega de nos juntar outra vez. Por muito que me apeteça chamar-lhe nomes não muito bonitos, voltamos.
Recordo agora uma noite em que seguimos a rotina mas de uma forma diferente.
Em Maio, as palavras ficaram pelo avesso e ele acabou por sair porta fora. Eu peguei no guarda-chuva e desci as escadas a correr, quase voei. Cheguei perto dele e ele já tinha a camisa encharcada, mas ficámos os dois debaixo do guarda-chuva, um pouco ridículos, como se aquele guarda-chuva nos protegesse realmente da chuva.
Selámos a noite com um beijo e seguimos para casa, com saudades do amanhã.

Subversão do conto de Vergílio Ferreira, “A estrela”

Sem um único brilho de surpresa e entusiasmo, vivem-se vidas apressadas e rotineiramente exaustas.
As mulheres correm para a porta de casa com o casaco de malha meio vestido e meio por vestir, e correm para a padaria para conseguirem ter o pedaço de pão mais fresco.
Os seus maridos levantam-se a custo de olhos entreabertos. Meio abertos meio por abrir, e ainda se tentam lembrar do que sonharam nessa noite mas a cada dia que passa vão envelhecendo e deixando os seus grandes e brilhantes sonhos esquecidos na noite, à espera que alguém que tenha o tempo os agarre e os abrace na finidade eterna do tempo.
Mas ninguém os abraça, ninguém os agarra, nunca ninguém limpa um espaço na agenda tão preenchidamente vazia para o fazer.
Em tempos acreditei que cada sonho esquecido e abandonado, trocado pelo sofá e televisão ao fim de um dia exausto e de um jantar de família calado, voava em direcção a nada e se reconfortava no pequeno espaço de céu que a escolhesse.
Esta teoria comprova perfeitamente a introdução a este texto e a ideia que ninguém me arranca do peito de que se prefere o fácil, a carreira promissora.
Isso! Cada sonho perdido eleva-se a esse véu negro que nos cobre e ali permanesse. Hoje se olharmos para cima quando o sol já se foi, é humanamente impossível contarmos os sonhos que alguém já esqueceu.
Assim, casa sonho perdido e enganado pelo tempo cresce numa estrela.
O que o Mundo precisa é de mais Pedros que empalmem uma estrela e a tragam de novo para terra, já que parece inútil evitar que a casa dia que passa nasça uma nova estrela.
Pedro, o perseguidor de uma estrela-sonho, foi até ao fim. Subiu até conseguir alcançá-la com o seu braço curto de criança e conseguiu mesmo trazê-la de volta.
Mas alguém reparou que o seu sonho abandonado tinha sido recuperado e exigiu que ele voltasse para o céu negro.
Talvez porque precisa de olhar para a sua estrela de baixo para cima.
Talvez esse fosse o motor da sua vida, ao qual se mantém inerte, apesar de tudo.
Numa primeira apreciação parecer-nos-á que aquela estrela-sonho não tem qualquer utilidade, mas para aquele alguém, não estar lá faz toda a diferença.
Não estar lá é a prova final de que a sua vida se perdeu e fugiu com a sua estrela-sonho, e nessa altura ele está derrotado, vencido, chorado.
Neste cenário, Pedro, a criança foi devolver a estrela onde ela pertencia e não resistiu à descida sem ela.
De repente, foi preciso alguém não resistir e desaparecer da vida daquela aldeia para as pessoas terem capacidade de mover os seus músculos imóveis e olharem finalmente para cima!
Não será triste que nenhum homem tenha conseguido empalmar a estrela? Apenas aquela pequena criança.
Talvez se tenha uma essência sonhadora quando se é criança, mas todos fomos crianças e isso não se torna uma desculpa para sacudirmos dos nossos ombros essa grande responsabilidade.Na noite em que Pedro partiu, a estrela empalmada brilhou mais forte. Uma luz de saudade. Da sua inocência e da altura que, quando tinha 5 anos, conseguiu atingir.

Monday, June 18, 2007

Agora, uma a pedido de muitas famílias... Não, não é Pennywise, Salazar! Mas sim, vamos fazer a vontade a uma professora...e talvez algumas pessoas do 10º se lembrem desta...
Rob Thomas – Little Wonders


Obrigada Elisabete Rodrigues