Thursday, May 31, 2007

Nas bancadas do Campo

Pessoas novas e desconhecidas como as paredes novas erguidas por ninguém e por todos.
Todos mudámos de vida para pertencer a esta, diferente.
Não entrámos com os mesmos valores com que nos deparamos agora. As circunstâncias alteraram-nos.
Antes não apreciei as pessoas à minha volta e agora sinto a sua falta, a falta da sua companhia e a falta das suas vidas complexas e simples.
Agora valorizo o que perdi ou o que já não me é fácil.
A minha passagem é temporária mas deixou em mim marcas que não consigo apagar e que não quero perder.
Há pessoas que me prendem a lugares.
Por elas, crio fortes amarras, crio laços demasiado fortes para que um dia perceba que os criei inquebráveis.
Estou num impasse. A minha vida não me permite arriscar, gritar e quebrar os limites.
Quero ir mas há pessoas que me puxam para ficar.
Tive desilusões mas o que não me mata torna-me mais forte!
É inútil tentar se as peças não encaixam mais, penso eu, mas depressa me apercebo de que encaixo mais do que pensava e isso empurra-me para uma dúvida que me assusta.
Pareço não conseguir decidir o que pesa mais, o que me prende mais...
O ano correu sempre num passo à frente de mim e agora estou presa aos pensamentos e às memórias da minha vida.
Resumo-me em pouco. Isso aterroriza-me e é hilariante.
Aqui, nas bancadas, as pessoas que me prendem agora foram o impulso ou a razão pela qual me levei a escrever tudo isto acima.
O tempo é um paradigma para mim. O tempo é relativo...
O pouco tempo pode ser suficiente quando o fazemos valer a pena.
Chegar e partir, assim, pode não significar nada.
Não conseguimos ter o controlo de tudo nem ter sempre perto de nós quem queremos. O que prevalece é o que conseguimos alcançar quando temos oportunidade e deixar marcas suficientemente fortes levam-nos a perpetuar as nossas relações, sem que nos esqueçam.

Friday, May 25, 2007

Titulo

Agora ando apressadamente pela avenida.
Sei que corro na tua direcção mas não sei onde estás, amor.
Sei que quando chegar a ti ficarei mais calma e segura mas estar ao teu lado é uma incessante procura de respostas.
Às quais não procuro resposta.
Prefiro assim. Deixar o mistério do nosso interior ir e vir com a maré.
Chego a ti e deixo-me levar, com a absoluta certeza de que me levas onde é mais secreto ir.
Entrego-me e fico.
Olhas-me nos olhos. Absorvo o que em ti há de mais profundo e torno meus os teus sentidos.
Sugo o teu calor e construo o meu império.
Puxas-me sem me tocar e pareço ceder-te um pedaço da minha força sem que consiga oferecer alguma resistência.
Limpo os sapatos gastos no tapete, abro a porta.
Estou em casa!
Chego um pouco mais perto.
Por favor, não me magoes desta vez

Tuesday, May 8, 2007

Um pouco de ficção

Dias extremamente cansativos na empresa imploravam por um banho de “gaja”, cheio de aromas relaxantes, sais de banho, duas pétalas de rosa sobre a toalha de banho. Daqueles banhos que duram longas horas e têm direito a velas perfumadas e de cores vivas.

Abriu a porta do seu apartamento, pousou as chaves e à medida que passava os corredores ia descalçando uma bota, depois a outra. Lentamente tirando as meias e depois as calças e o fato de executiva que a mascarava durante o dia.

Ligou a música ambiente e correu alegremente para ir por a água a correr.

Lembrou-se depois que não tinha qualquer motivo para comemorar e desfez tudo. Optou por um duche refrescante e usual.

(...)

Puxou então, a cortina da banheira para a sua direita, levantou a cabeça e viu uma silhueta que cada vez se tornava menos translúcida.

Era incrivelmente parecida com ela e numa observação mais cautelosa reparou que era mesmo um reflexo seu, com uma diferença.

Via na reflexão tudo o que um dia quis alcançar. À primeira vista um corpo que tinha passado horas no ginásio, bem definido por curvas femininas e depois um livro sobre o braço.

Bárbara sacudiu a toalha e só viu o livro caído no chão.

Abriu-o a medo. Não tinha nada.

Apenas ficção.

Meros Corpos

Ali estamos. Ela diante de mim. E eu perante ela.
Em tempos fomos cúmplices da mesma alma mas agora apercebo-me que não conheço esta pessoa que me encara com um olhar sobrevoante.
Julgo que algumas mudanças nas nossas vidas marcaram fases que a seu tempo nos tomaram e nos dissolveram em pessoas novas, diferentes.
Para mim ela é agora um mero corpo.
Antes da última mudança que nos lançou um desafio éramos o que cada uma de nós precisava e completávamo-nos. Agora queremos coisas diferentes e seguimos caminhos separados, lado a lado com pessoas que encontrámos e que nos preenchem o vazio que deixámos.
De certa forma todos encontramos “substitutos”, ou talvez sejam eles que nos encontram para nos acompanhar no novo caminho que escolhemos, o que faz com que nada, nada dure um sempre. Um “vou amar-te sempre” é irritantemente falso, mas penso que só a experiência nos traz isso, porque se tentarmos dizer a alguém que está cegamente apaixonado que a sua ideia de amor infinito é limitada e que se as pessoas mudam então não podemos amá-las eternamente sem nenhum deslize.
“Vou amar-te sempre” é remar contra a maré.
Os jovens entregam-se de todo a parceiros que não conhecem intimamente, vivem paixões fugazes e momentâneas de cinco minutos e partem para outra, como se fosse um jogo de toca e foge.
Dizem que tanto hão-de procurar que um dia encontrarão um amor maior que tenha como prazo de validade uma vida, mas é impossível chegar a sentir o sabor a amor perdido se duram o segundo de pestanejar.
Dêem-se às prestações, preservem-se a vós mesmos, tenham a certeza de que só se entregam a alguém que vos conheça por inteiro, mas não percam a vossa intimidade.
Se a perderem serão meros corpos.

Tuesday, May 1, 2007

Para a Sílvia

- Numa certa idade entramos no Mundo num passo de gigante, nesse passo há um caminho que escolhemos. Há factores no seio da nossa educação que nos influenciam e são a razão de sermos assim e não de outra forma. Por isso, pequena Sílvia, entraste no Mundo da Música e é esse mundo que considero o teu factor.
Cresceste e agora fazes parte do maravilhoso mundo das pautas, notas, ritmos e compassos de que poucas pessoas se podem gabar. As chaves desse mundo são a dedicação e a paixão, essas duas senhoras governadoras do mundo.
Ainda pequena entraste nesse mundo de fantasia e vento. Entraste com as tuas duas chaves que te davam o dobro do tamanho que tinhas, e te permitem chegar onde queres, sem o saberes.
Sem saberes tens força para alcançar o que desejas, mas algures no caminho perdeste uma das chaves…
Invejo esse teu conhecimento do mundo da música que todos os dias trazes na palma da tua mão e nos dás a provar uma ponta que nos deixa fascinados. Certamente que, por esse ser o teu factor, admiras génios desse mundo e sorris quando ouves/tocas Mozart.
Este é o teu tesouro.
És sensível e emotiva mas talvez esse seja o teu escape, a tua manhã que recomeça e refresca o teu dia. Afinal não há outro propósito para chorar senão o incrível alívio que sentimos depois. O que há depois de chorar? O que é senão o último suspiro que damos antes de decidir mudar o rumo da nossa vida?
Ah, e a tua vida só é curta se não lhe deres importância e não fizeres dela o que realmente queres, embalada pelo instinto do momento presente que vives. Dizer que a vida é curta é menosprezá-la. É compará-la a uma relação de tempo infinita que transcende o homem, e para quê? Só te traz motivos para abrires e correres para o teu escape e virares a página para a tua manhã que recomeça e refresca o teu dia.
Não te feches e traz amigos e companheiros contigo no teu percurso, eles deixarão as suas pegadas lado a lado com as tuas.
Pega nas tuas chaves, no teu Mundo e na tua força e faz-te à estrada longa da tua jovem vida. É esse o objectivo que cada pessoa tem quando vem à terra!
Não sejas uma mera observadora da tua vida, faz parte dela e não deixes que remem contra o teu caminho, vai por atalhos. Ou, se isso te fizer mais feliz, escolhe um caminho novo, um objectivo novo, um destino novo!
Ri. Chora. Sente. Vê. Abraça. Reage. Cumpre. Corre. Ouve. Toca. Suspira. Muda. Prepara-te. Sorri. Canta. Salta. Ama. VIVE, pequena Sílvia.