Sunday, March 30, 2008

Um dia

Um dia...
Acredito.
Um dia não me vais olhar como me olhas hoje
Não vou ter de disfarçar gestos feridos, como se te tivesses fartado de mim, como se eu te entediasse de morte
Um dia esses olhares e essas palavras que me custam tanto e que para ti não passam de diversões vão extinguir-se
Um dia só vai sobrar espaço para me mostrares
Só vai sobrar tempo para eu ver
Um dia, talvez
Talvez vires toda a raiva e me abraces na nova vaga que és
Um dia talvez esteja gasta
Um dia, e acredito, vais querer garantir-me do teu lado
Um dia, quando perceberes que sempre estive, talvez me acolhas, breve e feliz
E se um dia perceberes como preciso, como aprendo ao teu lado
Um dia vais saber, com a mesma força com que me escutas e me lês estas palavras, que me dou, que me entrego a ti
Um dia vais estender-me essa estrada
Vais dar-me sentidos
Um dia vamos respirar de alívio por nos termos cruzado
Vamos sentir-nos inteiramente bem por nos termos, e por podermos ser nós
Um dia que anseio
Esse dia que parece mais perto quando me sorris, porque isso é universal
Esse dia,
Acredito.

Wednesday, March 19, 2008

Adorava ter daquelas vidinhas abençoadas.
Super favorecidas pelos milagres da genética.
Mas ninguém quer ler textos de alguém que só se sabe queixar para umas quantas linhas no papel.
Digo-vos. Ninguém quer ler textos de alguém que só dê pena. É desinteressante.
É de pouca qualidade.
Mas prometo que nestas férias vou comer dicionários. Só para ver se me traz novas peças de vocabulário.
Férias!
Quem não quer?
Daquelas que só são possíveis em lugares que não o nosso. Daquelas que só acontecem nos filmes. Com aquelas cenas típicas e que me deixam verde de inveja.
Férias com amigos. Com os ingredientes todos que vêm com a receita, por direito!
Amores de verão, praia de dia com gelados, praia de noite com guitarras e fogueiras.
Saladas frescas, aventuras a condizer.
Histórias e planos absurdos.
Tu estendes a mão e passas-me algum objecto.
De todos aqueles que te pertencem nunca achei que me fosses dar nenhum.
A mim deste um alfinete. Digo-o como se fosse um grande prémio ganho num grande concurso, mas não é, pois não?
É um alfinete.
Nunca vai ser mais do que aquilo, assim como tu nunca vais ser mais do que me és agora.
Vou usá-lo. O mais irónico é que vou usá-lo.
Para prender a tua fotografia no meu quadro de cortiça.
É esta a prova que te dou.
Tu nunca me seduziste com esse teu jeito tão sensível.
Eu sempre preferi o frontal.
Mas se ainda achas que me és indiferente podes abandonar essa ideia, depois de te conhecer voltei a roer as unhas.
E sei que é inevitável, assim que puder vou largar tudo o que estou a fazer e vou roer as unhas.
Sem brilho, sem verniz, nada.
Behold gentleman!
Because this is the night where you will testify a great chapter in the history of Mankind.
Someone has arrived.
The one we all expected for so long.
For so long that we are even tired of hearing and talking about it. But no one could forget.
Not for one second.
Someone with a great figure.
Perfectly shaped, maybe by God Himself.
Someone whose presence is so strong that even the ink of my pen is afraid to face.
Someone whose perfum is so captivating that not even the most powerful Maharajah can top.
Someone whose walk amazes all people in the globe.
Someone whose fences were passed long before Man's first step on the moon.
And you, you thought you could be that someone.
I have to congratulate you because you've accomplished one of your so wanted Master Pieces.
But not today.
Baby, today you only got everyone laughing at you.
Laughing so loudly that it burn.
And that burn that is leaving scares in your skin has my name written on it.
Gladly, I was the one who laughed louder. Drink it up

Monday, March 17, 2008

Inteiramente teu

“Silêncio.
A plateia aguarda ansiosamente o sinal do maestro.”
O pianista entra em palco.
Prepara-se para enfrentar esta plateia e extasiá-la sem dizer uma única palavra, sem precisar de estabelecer qualquer contacto com o seu olhar.
Sentem-se os seus passos, com aqueles sapatos de gala festiva a tocarem no soalho de madeira suave. Esquerdo, direito, esquerdo, direito.
Senta-se.
A plateia acolhe-o com palmas, alguns estão mesmo de pé. É como se lhe dissessem “bem-vindo a casa”.
Ao sinal do maestro, que faz flutuar as suas mãos com toda a paixão, entregando-se e pronto para se perder em frente àqueles músicos, àqueles instrumentos, começa então o concerto.
A medo, cria as primeiras notas.
A plateia ressente-se, como se a sua viagem tivesse começado.
Ao piano, seguem-se o violoncelo, o oboé, o clarinete… Só vêm acrescentar melodia, corpo a esta orquestra.
Violinos.
Os músicos dão-se todos aos seus instrumentos, e os seus instrumentos dão-se todos a eles. Seus companheiros de longas noites de inspiração, companheiros de pautas, notas, arpejos, fiéis amigos.
Acalma.
Os músicos, assim como a plateia, reúnem as suas forças, e inspiram fundo aquelas notas, não há oxigénio nem nenhum outro gás, aquela atmosfera é de música.
A sala está repleta de beleza, paira perfeição e emana sensualidade.
O pianista, embalado, toca um solo, atreve-se a assumir o comando da noite.
O fôlego aperta-se.
O clímax aproxima-se.

Este momento é âmbar. Congelou cada músico, toda a plateia, no eterno.
Do maestro sai toda a música. Fluida, como o grito daqueles violinos, como o chamar daquele oboé e daquele clarinete, o rufar daqueles tambores e como a mensagem daquele piano.
Os instrumentos pedem-no, os músicos pedem-no!
Quando o concerto desfalece e acaba, a plateia sente-se bem, bem. Nova.
Mas não acaba verdadeiramente, aquele concerto vai para casa, no mais intrínseco de cada um!
A plateia, submersa, aplaude de pé.
Os músicos agradecem de pé.
Por favor, outra vez!

Sunday, March 16, 2008

Perfeição, bolsos e p*tas

Comprei uns jeans novos.
Daqueles que nos servem como se tivessem sido feitos à medida para nós.
O homem que teceu aquelas linhas, que imaginou aquelas curvas e que coseu aqueles pontos estava a pensar em mim quando o fez.
E por isso ele entregou toda a sua saúde, disposição, cabeça, corpo e mente. Todos os poros da sua pele naqueles jeans.
Mas não são perfeitos, mas só porque o perfeito não existe.
Se existisse seriam aqueles jeans.
Se existisse seria um homem.
Se existisse seria uma mulher, e uma mulher grávida, trazendo vida dentro de si, literalmente.
Mas não há.
Há algo aproximado a isso, pode dizer-se que uma relação perfeita é quando se amam as qualidades e se suportam os defeitos. Estão a ver onde quero chegar?
Perfeição é a ausência de defeitos.
E isso não é do domínio terrestre e humano. É apenas reservado ao divino.
É como televisão por cabo, só quem paga caro pode ver.
Eu voltei a sentir aquele tecido assente na minha pele, e pus a mão no bolso. Quando olhei para o que tinha tirado de lá, para o que estava na minha mão, posso-vos dizer que era tempo. Era tempo, sangue e oxigénio.
P*ta que pariu falta-me o tempo, o sangue e o oxigénio e era lá que eles estavam, no meu bolso!
P*tas, p*tas, p*tas, pelo menos essas!
São o tóxico de uma sociedade, olhadas com desrespeito e tratadas como tal. No seu olhar, no entanto, só restará vergonha e desilusões.Porque no dia em que venderam o seu corpo, tiraram-lhes como se fossem uma promoção a sua força e orgulho.