Wednesday, February 20, 2008

Vou fechar os meus olhos e por-me à prova
Desafiar-me para me superar
e depois de o fazer vou poder descansar ou celebrar. Depende
Com os meus olhos já fechados,
vou sentir o caminho.
Vou sentir as pedras deste chão,
vou ser matéria e vou para outro lugar.
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova
Porque eu sei os passos de cor
Porque eu aprendi o número de passos exactos que são precisos para chegar a ti.
Só fecharei os olhos e confiarei todos os meus passos aos meus instintos quando tu fores uma certeza segura.
Vou apertar o cinto e sentir a sua segurança
Vou andar de pés descalços. Vulneráveis
Vou caminhar por trilhos, com alguma pressa, pois posso perder o comboio.
E depois de tudo, vou beber um copo ou dois, e celebrar. Embebedar-me.
Porque uma vez bêbedo, vou ter ilusões.
E pode ser que tu, a minha maior ilusão, me apareças.
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova.
E a cambalear pela avenida, vou voltar para casa.

Thursday, February 7, 2008

E mais uma vez, uma carrinha de mudanças estaciona ao lado da minha casa.
Traz mais uma família, mais uma vida embalada em caixotes de cartão. “Frágil”.
Quantos livros e filmes é que já foram feitos sobre o vizinho novo no bairro?
Mas quantas pessoas é que podem mesmo contar uma história sobre ele…
Eu entrei num filme. E fui uma das protagonistas.
Ao fim da tarde chegou a grande carrinho branca. Atrás dessa carrinha vinha um outro carro cinzento, estacionou, as portas da frente abriram-se e saiu o casal que parecia ser o dono da casa nova, depois abriu-se a porta de trás e saiu o filho do casal… alto, ambos largos, calções de Verão e t-shirt que deixava ver uns braços musculados e bronzeados. E eu vi tudo da janela do meu quarto, em câmara lenta.
Senti-me uma voyeur e levantei-me depressa e envergonhada, como se alguém me tivesse visto a olhar fixo naquele rapaz.
Até à hora de jantar estava num êxtase sem fazer barulho absolutamente nenhum.
À mesa de jantar tive que me controlar perante os meus pais e o meu irmão.
A companhia tocou um pouco depois da sobremesa… Oh meu Deus!
O meu irmão foi abrir e voltou para a mesa com as visitas… com A visita.
Eu nem queria acreditar que era o rapaz dos calções, e não queria acreditar que ele já conhecia o meu irmão.
Nem preciso de vos contar, já sabem… Foi o habitual.
Rapaz conhece rapariga, trocam-se olhares, o rapaz faz referências subtis e atrevidas à rapariga e por coincidência acabam por passar algum tempo a sós por causa de diversos contra tempos e planos mal explicados.
Completamente filme.
Passámos por vários cenários.
Festas de piscina, festas de praia, o quarto desarrumado do meu irmão, a parede do corredor, sala escura à luz de poucas velas, à luz da fogueira…
Estávamos nas nuvens, gostávamos um do outro e gostávamos de nos esconder… com pressão tornávamo-nos cúmplices e espiões.
À noite, eu ia até à casa do lado. Na noite seguinte, ele vinha até à casa do lado.
O meu mundo desaparecia e centrava-se tudo ali. Cada lugar do mundo era ali, cada pessoa éramos nós, cada pulsação, cada respiração.
E depois, um de nós dois saía pela varanda, à vez…
Uma noite, enquanto esperava que ele chegasse, vi o meu pai sair da porta, e do outro lado a mãe dele a sair.
Encontraram-se e entraram no carro do meu pai para conversar. Pareciam estar a discutir. Eles descobriram-nos!
A mãe dele saiu do carro e o meu pai correu atrás dela.
-Mas ele é meu filho?
Eu não podia acreditar…
- Responde!
A mãe dele olhou para o meu pai e voltou para casa a chorar.
Eu não queria acreditar!
Tapava os meus ouvidos mas já não podia apagar aquilo do meu cérebro! Só queria que o sangue parasse de correr nas minhas veias, queria acordar daquela mentira mas era tarde, muito tarde…
-O que é que se passa?
Ele já tinha subido a varanda.
Corri para ele e abracei-o com força pois aquela seria a última vez que lhe ia poder tocar.
-Miguel, não nos podemos continuar a … a ver.
Ele achou que eu ia de férias e sorriu, “mas nós vemo-nos quando voltares e eu porto-me bem enquanto estiveres fora”
-Não Miguel! Eu... eu já não – não podia dizer aquela mentira tão forte assim e negar que todos os músculos e nervos sensoriais do meu corpo o queriam de volta, mas eu tinha que ser maior que a dor, maior que o amor – eu já não sinto nada por ti.
E vi nos olhos dele que não acreditou, mas saiu por respeito.
E eu saí com ele, pela varanda. Mas estava ali parada, e fiquei.
Com as lágrimas a passearem em mim.



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