Saturday, April 19, 2008

Desculpem a ausência
mas retirei-me para viver.
Voltei só para escrever poesia que não rima, mas que mesmo assim te soa à poesia épica de Camões.
As palavras esgotaram-se, a pele está gasta, as rugas presentes e, a vontade embarcou no navio da semana passada.
No regresso, apenas consegui encontrar a cera derretida das velas que deixaste no chão. É raro.
Era raro esqueceres-te de as apagar... era raro esqueceres-me.

Monday, April 7, 2008

Noite de Estreia

Hoje foi mais uma estreia absoluta.
Nela não podes ser nada senão o protagonista.
Toda a gente te dava os parabéns mesmo antes de entrares em palco e antes mesmo de dizeres alguma coisa que os merecesse.
Sucesso. É isso que as pessoas esperam de ti, desde o primeiro instante.
Não está vento. Parece que escolheste a noite perfeita. Ou que ela se tornou perfeita à tua medida.
Lá fora, fumas o último cigarro antes de entrar, encostado à parede.
Mas eu sei como tu adoras os bastidores.
Entraste no meu camarim e roubaste o meu papel, apoderaste-te dele como se nunca me tivesse pertencido. Desde então, apetece-te o sabor a bastidores.
Mas está na hora, dizem-te.
E tu, ansioso mas cansado, nervoso mas entediado, passas uma última olhada no guião.
E estás pronto. Não podes não estar.
Segundos antes de entrares escolhes uma das muitas máscaras que tens.
E sem te aperceberes, estás em palco.
E eu sei que tu adoras o palco.
Todas as atenções centradas em ti, a receberem-te com aplausos. Deve ser bom voar assim.
Na noite de estreia divirto-me a descobrir a tua máscara. O que há nela que, desta vez, é verdadeiro e o que, hoje, tu interpretas.
E eu sei de todos os teus truques e conheço todas as tuas manias.
Do palco, tu ouves-me, sentes-me.
Procuras-me sem te desconcentrares mas não consegues. Há demasiados focos, há demasiados rostos.
Ajeitas o nó da gravata e aí eu sei como te sufoca.
No fim, chovem rosas aos teus pés.
E eu sei como tu adoras essa vida de actor, como a magia de ser quem queres te seduz.
Porque para ti é isto.
A vida, nós, a pele, o pano a cair.
Somos uma peça numa noite de estreia.