Ao virar da esquina, vamos contra ele e deixamos cair os nossos livros. Baixamo-nos para os apanhar e é nesse momento que as mãos se tocam, e acontece.
A correr para apanhar o comboio, que está a sair da plataforma, quando um sorriso segura a porta, e acontece.
Nos jantares, rodeados de gente que conversa alto, quando as conversas ficam para barulho de fundo e em grande plano fica o erguer do copo de cristal, ele acontece.
Às 7h da manhã, o café acabou e descemos a avenida, quando o vemos sentado ao balcão, a soprar o cappucino, e acontece.
À espera que apareça um táxi, à chuva, quando ele aparece com um guarda-chuva para nos privar daquela sensação de que o dia não pode piorar, acontece.
Mesmo ao nosso lado - mesmo sentado ao nosso lado - e de repente percebemos que sempre esteve lá, acontece.
No metro, a ouvir musica de phones, como se o que vissemos fosse o pano da melodia, acontece.
Quando andamos por aquela rua, que pisámos centenas de vezes, quando os nossos glamorosos saltos tropeçam na calçada e ele nos agarra nos braços, não nos deixando cair, acontece.
No rebelião do reduzido espaço do corredor no escritório, num beijo de filme, cheio, acontece.
Eventualmente, apanha-nos desprevenidos, deixa-nos num segundo sem qualquer explicação, atrapalhados com a velocidade do ilógico que ultrapassa a da luz no vazio, deixa os mais loucos cientistas a investigar o valor da sua constante, a questionar sem perceber, ele acontece e não pára com o tempo nem com o avançar dos séculos.
No escuro
No silêncio
Acontece
A todos, a qualquer hora, em qualquer lugar.
Saturday, June 28, 2008
Friday, May 23, 2008
Paralelismo
E, mais uma vez, estava no seu quarto de vestir.
A sua ama apertava-lhe o corpete "está bom senhora?" e apertava mais um pouco. Não posso respirar, não posso.
Com o vestido a esvoaçar pelo chão, vagueava fatalmente pelo grande corredor até ao Salão.
Passava as portas, que tantas vezes passara, aquelas portas altas e brancas. Os criados, aborrecidamente sincronizados, abriam-nas.
Não deixava de se deliciar com aquele espéctaculo. Clássico.
No jantar, ouvia política disparatada, economia decadente e a comida sabia-lhe mal. Caía-lhe pesada no estômago.
Não comentava mas sorria. Sabia que era isso que esperavam dela.
(...)
Depois da reunião que a deixava exausta, recebeu um telefonema, um avisozinho: era a vez dos rapazes jantarem no apartamento.
Acelerou. Voou até casa. Adiantou o jantar, desceu até à mercearia, ainda de avental. Faltava o gelo para a caipirinha.
Às 19h30 implorou por ajuda para pôr os pratos e os guardanapos na mesa e às 20h30 o jantar estava na mesa e os habituais primeiros a chegar perpetuavam a tradição.
Naquelas noites ela bebia. Sorria E bebia todos os golos da jornada do glorioso e concordava na pulhice da arbitragem.
Às 4h30, sonâmbula, acabava de arrumar a cozinha e apanhar as migalhas de nachos do tapete da sala, despejava o saco que tinha sido cheio apenas com garrafas de Super Bock. Pelo menos tinha o seu melhor amigo a seu lado, Syrah.
(...)
Branca como a porta do Salão, pálida, sufocada pelo corpete, retirou-se depois do café.
A tradição do habitual passeio no seu jardim perpetuava-se. Era dos poucos lugares do palacete que gostava, onde se sentia bem em sua casa.
Mas sentia. Sentia que havia alguma coisa.
"Podem retirar-se"
"Mas senhora..."
"Só me demoro alguns minutos"
Expulsava lentamente todos os vestígios que a pudessem distanciar daquele jardim. Só assim podia descobrir o que, naquela noite, havia de complementar.
Desperta mas embalada, virou o seu olhar um pouco mais e, no remate do jardim, viu uma sombra. Uma silhueta masculina.
Em pouco tempo, aquela silhueta mostrou um nome, mostrou um coração maior e deu-lhe a alma como quem a troca por um livro antigo. Mais do que alguma vez tinha ousado encontrar, mais do que alguma vez pudesse desejar.
Mais.
Mais do que alguma vez seria no seio daquele casamento economicamente perfeito.
Aquela sombra no jardim, abraçava-a às escondidas em encontros combinados, tornava-se lentamente no corpo que queria a criar calor humano com o seu. Passeios naquele jardim que lhes tinha dado o mote, naquelas horas avançadas da noite que os tinham apresentado.
Aquela mulher, havia descoberto o motivo do pó de arroz, havia descoberto a direcção que tinha de pedir a Deus, ao ajoelhar-se junto ao seu leito.
Mais do que receber, queria dar-se. Dar-se de corpo e alma, atributos e equilíbrio.
Lentamente aquela sombra misteriosa ganhou um corpo de homem e, ao mesmo ritmo, arrastava-a para a traição.
(...)
Nunca achou realmente que se reciclasse, mas não conseguia não o fazer. E, por isso, andava até ao próximo quarteirão.
Nunca pensou que pudesse ganhar dias mais radiantes, luminosos, apaixonantes.
Na rua do bairro, apenas com as luzes de estrada, travava uma batalha com o anel que tinha no seu dedo.
Primeiro, apenas porque estava cansada, deslizava ao seu sorriso, mas em pouco tempo essa paixão tornou-se mais forte, até apertar a distância, até matarem os segundos.
Mais encontros, mais horas de almoço na livraria que ele geria, encostados nas prateleiras a consumar a mais saborosa das derrotas. Tinha perdido a luta que travava com o compromisso de ouro, envolto, preso no seu dedo.
Enfeitiçada, ignorava o sentimento de culpa. O amor fascinava-a, cegava-a.
Entregava-lhe alegremente a felicidade ao domicilio.
(...)
A sua ama apertava-lhe o corpete "está bom senhora?" e apertava mais um pouco. Não posso respirar, não posso.
Com o vestido a esvoaçar pelo chão, vagueava fatalmente pelo grande corredor até ao Salão.
Passava as portas, que tantas vezes passara, aquelas portas altas e brancas. Os criados, aborrecidamente sincronizados, abriam-nas.
Não deixava de se deliciar com aquele espéctaculo. Clássico.
No jantar, ouvia política disparatada, economia decadente e a comida sabia-lhe mal. Caía-lhe pesada no estômago.
Não comentava mas sorria. Sabia que era isso que esperavam dela.
(...)
Depois da reunião que a deixava exausta, recebeu um telefonema, um avisozinho: era a vez dos rapazes jantarem no apartamento.
Acelerou. Voou até casa. Adiantou o jantar, desceu até à mercearia, ainda de avental. Faltava o gelo para a caipirinha.
Às 19h30 implorou por ajuda para pôr os pratos e os guardanapos na mesa e às 20h30 o jantar estava na mesa e os habituais primeiros a chegar perpetuavam a tradição.
Naquelas noites ela bebia. Sorria E bebia todos os golos da jornada do glorioso e concordava na pulhice da arbitragem.
Às 4h30, sonâmbula, acabava de arrumar a cozinha e apanhar as migalhas de nachos do tapete da sala, despejava o saco que tinha sido cheio apenas com garrafas de Super Bock. Pelo menos tinha o seu melhor amigo a seu lado, Syrah.
(...)
Branca como a porta do Salão, pálida, sufocada pelo corpete, retirou-se depois do café.
A tradição do habitual passeio no seu jardim perpetuava-se. Era dos poucos lugares do palacete que gostava, onde se sentia bem em sua casa.
Mas sentia. Sentia que havia alguma coisa.
"Podem retirar-se"
"Mas senhora..."
"Só me demoro alguns minutos"
Expulsava lentamente todos os vestígios que a pudessem distanciar daquele jardim. Só assim podia descobrir o que, naquela noite, havia de complementar.
Desperta mas embalada, virou o seu olhar um pouco mais e, no remate do jardim, viu uma sombra. Uma silhueta masculina.
Em pouco tempo, aquela silhueta mostrou um nome, mostrou um coração maior e deu-lhe a alma como quem a troca por um livro antigo. Mais do que alguma vez tinha ousado encontrar, mais do que alguma vez pudesse desejar.
Mais.
Mais do que alguma vez seria no seio daquele casamento economicamente perfeito.
Aquela sombra no jardim, abraçava-a às escondidas em encontros combinados, tornava-se lentamente no corpo que queria a criar calor humano com o seu. Passeios naquele jardim que lhes tinha dado o mote, naquelas horas avançadas da noite que os tinham apresentado.
Aquela mulher, havia descoberto o motivo do pó de arroz, havia descoberto a direcção que tinha de pedir a Deus, ao ajoelhar-se junto ao seu leito.
Mais do que receber, queria dar-se. Dar-se de corpo e alma, atributos e equilíbrio.
Lentamente aquela sombra misteriosa ganhou um corpo de homem e, ao mesmo ritmo, arrastava-a para a traição.
(...)
Nunca achou realmente que se reciclasse, mas não conseguia não o fazer. E, por isso, andava até ao próximo quarteirão.
Nunca pensou que pudesse ganhar dias mais radiantes, luminosos, apaixonantes.
Na rua do bairro, apenas com as luzes de estrada, travava uma batalha com o anel que tinha no seu dedo.
Primeiro, apenas porque estava cansada, deslizava ao seu sorriso, mas em pouco tempo essa paixão tornou-se mais forte, até apertar a distância, até matarem os segundos.
Mais encontros, mais horas de almoço na livraria que ele geria, encostados nas prateleiras a consumar a mais saborosa das derrotas. Tinha perdido a luta que travava com o compromisso de ouro, envolto, preso no seu dedo.
Enfeitiçada, ignorava o sentimento de culpa. O amor fascinava-a, cegava-a.
Entregava-lhe alegremente a felicidade ao domicilio.
(...)
Monday, May 5, 2008
(atrasado)
Alguns descobriram ontem
Alguns vão encontrar amanhã por mero acaso
Alguns nunca tiveram a chance de encontrar, nem ouvir falar dos seus métodos
Alguns ouviram falar por outros.
Certo, é que existe.
Refuto todas as hipóteses daqueles grandes filósofos. Certamente nunca sentiram o prazer de ter alguma certeza.
Mas hoje, estas palavras, são de comemoração!
Proponho um brinde.
Ergam as taças de champagne borbulhante e sorriam.
Podem dispensar a razão do brinde e, secretamente, brindar à vossa.
Eu brindo ao passar do tempo. Aos 365 longos dias. Cada um desses com 24h e cada uma dessas horas com 60 apaixonantes minutos, e em cada um desses minutos há 60 segundos que estão absolutamente repletos de ti.
Brindo à certeza do meu crescimento como pessoa e aproveito para agradecer brindando aos que me acompanham.
Penso, e resolvo mudar de visual.
Aquelas letras cansaram-me a vista e aquelas cores embaciaram-me a alma.
Dias, horas e segundos de papel.
Um ano de páginas.
Alguns vão encontrar amanhã por mero acaso
Alguns nunca tiveram a chance de encontrar, nem ouvir falar dos seus métodos
Alguns ouviram falar por outros.
Certo, é que existe.
Refuto todas as hipóteses daqueles grandes filósofos. Certamente nunca sentiram o prazer de ter alguma certeza.
Mas hoje, estas palavras, são de comemoração!
Proponho um brinde.
Ergam as taças de champagne borbulhante e sorriam.
Podem dispensar a razão do brinde e, secretamente, brindar à vossa.
Eu brindo ao passar do tempo. Aos 365 longos dias. Cada um desses com 24h e cada uma dessas horas com 60 apaixonantes minutos, e em cada um desses minutos há 60 segundos que estão absolutamente repletos de ti.
Brindo à certeza do meu crescimento como pessoa e aproveito para agradecer brindando aos que me acompanham.
Penso, e resolvo mudar de visual.
Aquelas letras cansaram-me a vista e aquelas cores embaciaram-me a alma.
Dias, horas e segundos de papel.
Um ano de páginas.
Saturday, April 19, 2008
Desculpem a ausência
mas retirei-me para viver.
Voltei só para escrever poesia que não rima, mas que mesmo assim te soa à poesia épica de Camões.
As palavras esgotaram-se, a pele está gasta, as rugas presentes e, a vontade embarcou no navio da semana passada.
No regresso, apenas consegui encontrar a cera derretida das velas que deixaste no chão. É raro.
Era raro esqueceres-te de as apagar... era raro esqueceres-me.
mas retirei-me para viver.
Voltei só para escrever poesia que não rima, mas que mesmo assim te soa à poesia épica de Camões.
As palavras esgotaram-se, a pele está gasta, as rugas presentes e, a vontade embarcou no navio da semana passada.
No regresso, apenas consegui encontrar a cera derretida das velas que deixaste no chão. É raro.
Era raro esqueceres-te de as apagar... era raro esqueceres-me.
Monday, April 7, 2008
Noite de Estreia

Nela não podes ser nada senão o protagonista.
Toda a gente te dava os parabéns mesmo antes de entrares em palco e antes mesmo de dizeres alguma coisa que os merecesse.
Sucesso. É isso que as pessoas esperam de ti, desde o primeiro instante.
Não está vento. Parece que escolheste a noite perfeita. Ou que ela se tornou perfeita à tua medida.
Lá fora, fumas o último cigarro antes de entrar, encostado à parede.
Mas eu sei como tu adoras os bastidores.
Entraste no meu camarim e roubaste o meu papel, apoderaste-te dele como se nunca me tivesse pertencido. Desde então, apetece-te o sabor a bastidores.
Mas está na hora, dizem-te.
E tu, ansioso mas cansado, nervoso mas entediado, passas uma última olhada no guião.
E estás pronto. Não podes não estar.
Segundos antes de entrares escolhes uma das muitas máscaras que tens.
E sem te aperceberes, estás em palco.
E eu sei que tu adoras o palco.
Todas as atenções centradas em ti, a receberem-te com aplausos. Deve ser bom voar assim.
Na noite de estreia divirto-me a descobrir a tua máscara. O que há nela que, desta vez, é verdadeiro e o que, hoje, tu interpretas.
E eu sei de todos os teus truques e conheço todas as tuas manias.
Do palco, tu ouves-me, sentes-me.
Procuras-me sem te desconcentrares mas não consegues. Há demasiados focos, há demasiados rostos.
Ajeitas o nó da gravata e aí eu sei como te sufoca.
No fim, chovem rosas aos teus pés.
E eu sei como tu adoras essa vida de actor, como a magia de ser quem queres te seduz.
Porque para ti é isto.
A vida, nós, a pele, o pano a cair.
Somos uma peça numa noite de estreia.
Sunday, March 30, 2008
Um dia
Um dia...
Acredito.
Um dia não me vais olhar como me olhas hoje
Não vou ter de disfarçar gestos feridos, como se te tivesses fartado de mim, como se eu te entediasse de morte
Um dia esses olhares e essas palavras que me custam tanto e que para ti não passam de diversões vão extinguir-se
Um dia só vai sobrar espaço para me mostrares
Só vai sobrar tempo para eu ver
Um dia, talvez
Talvez vires toda a raiva e me abraces na nova vaga que és
Um dia talvez esteja gasta
Um dia, e acredito, vais querer garantir-me do teu lado
Um dia, quando perceberes que sempre estive, talvez me acolhas, breve e feliz
E se um dia perceberes como preciso, como aprendo ao teu lado
Um dia vais saber, com a mesma força com que me escutas e me lês estas palavras, que me dou, que me entrego a ti
Um dia vais estender-me essa estrada
Vais dar-me sentidos
Um dia vamos respirar de alívio por nos termos cruzado
Vamos sentir-nos inteiramente bem por nos termos, e por podermos ser nós
Um dia que anseio
Esse dia que parece mais perto quando me sorris, porque isso é universal
Esse dia,
Acredito.
Acredito.
Um dia não me vais olhar como me olhas hoje
Não vou ter de disfarçar gestos feridos, como se te tivesses fartado de mim, como se eu te entediasse de morte
Um dia esses olhares e essas palavras que me custam tanto e que para ti não passam de diversões vão extinguir-se
Um dia só vai sobrar espaço para me mostrares
Só vai sobrar tempo para eu ver
Um dia, talvez
Talvez vires toda a raiva e me abraces na nova vaga que és
Um dia talvez esteja gasta
Um dia, e acredito, vais querer garantir-me do teu lado
Um dia, quando perceberes que sempre estive, talvez me acolhas, breve e feliz
E se um dia perceberes como preciso, como aprendo ao teu lado
Um dia vais saber, com a mesma força com que me escutas e me lês estas palavras, que me dou, que me entrego a ti
Um dia vais estender-me essa estrada
Vais dar-me sentidos
Um dia vamos respirar de alívio por nos termos cruzado
Vamos sentir-nos inteiramente bem por nos termos, e por podermos ser nós
Um dia que anseio
Esse dia que parece mais perto quando me sorris, porque isso é universal
Esse dia,
Acredito.
Wednesday, March 19, 2008
Adorava ter daquelas vidinhas abençoadas.
Super favorecidas pelos milagres da genética.
Mas ninguém quer ler textos de alguém que só se sabe queixar para umas quantas linhas no papel.
Digo-vos. Ninguém quer ler textos de alguém que só dê pena. É desinteressante.
É de pouca qualidade.
Mas prometo que nestas férias vou comer dicionários. Só para ver se me traz novas peças de vocabulário.
Férias!
Quem não quer?
Daquelas que só são possíveis em lugares que não o nosso. Daquelas que só acontecem nos filmes. Com aquelas cenas típicas e que me deixam verde de inveja.
Férias com amigos. Com os ingredientes todos que vêm com a receita, por direito!
Amores de verão, praia de dia com gelados, praia de noite com guitarras e fogueiras.
Saladas frescas, aventuras a condizer.
Histórias e planos absurdos.
Tu estendes a mão e passas-me algum objecto.
De todos aqueles que te pertencem nunca achei que me fosses dar nenhum.
A mim deste um alfinete. Digo-o como se fosse um grande prémio ganho num grande concurso, mas não é, pois não?
É um alfinete.
Nunca vai ser mais do que aquilo, assim como tu nunca vais ser mais do que me és agora.
Vou usá-lo. O mais irónico é que vou usá-lo.
Para prender a tua fotografia no meu quadro de cortiça.
É esta a prova que te dou.
Tu nunca me seduziste com esse teu jeito tão sensível.
Eu sempre preferi o frontal.
Mas se ainda achas que me és indiferente podes abandonar essa ideia, depois de te conhecer voltei a roer as unhas.
E sei que é inevitável, assim que puder vou largar tudo o que estou a fazer e vou roer as unhas.
Sem brilho, sem verniz, nada.
Super favorecidas pelos milagres da genética.
Mas ninguém quer ler textos de alguém que só se sabe queixar para umas quantas linhas no papel.
Digo-vos. Ninguém quer ler textos de alguém que só dê pena. É desinteressante.
É de pouca qualidade.
Mas prometo que nestas férias vou comer dicionários. Só para ver se me traz novas peças de vocabulário.
Férias!
Quem não quer?
Daquelas que só são possíveis em lugares que não o nosso. Daquelas que só acontecem nos filmes. Com aquelas cenas típicas e que me deixam verde de inveja.
Férias com amigos. Com os ingredientes todos que vêm com a receita, por direito!
Amores de verão, praia de dia com gelados, praia de noite com guitarras e fogueiras.
Saladas frescas, aventuras a condizer.
Histórias e planos absurdos.
Tu estendes a mão e passas-me algum objecto.
De todos aqueles que te pertencem nunca achei que me fosses dar nenhum.
A mim deste um alfinete. Digo-o como se fosse um grande prémio ganho num grande concurso, mas não é, pois não?
É um alfinete.
Nunca vai ser mais do que aquilo, assim como tu nunca vais ser mais do que me és agora.
Vou usá-lo. O mais irónico é que vou usá-lo.
Para prender a tua fotografia no meu quadro de cortiça.
É esta a prova que te dou.
Tu nunca me seduziste com esse teu jeito tão sensível.
Eu sempre preferi o frontal.
Mas se ainda achas que me és indiferente podes abandonar essa ideia, depois de te conhecer voltei a roer as unhas.
E sei que é inevitável, assim que puder vou largar tudo o que estou a fazer e vou roer as unhas.
Sem brilho, sem verniz, nada.
Behold gentleman!
Because this is the night where you will testify a great chapter in the history of Mankind.
Someone has arrived.
The one we all expected for so long.
For so long that we are even tired of hearing and talking about it. But no one could forget.
Not for one second.
Someone with a great figure.
Perfectly shaped, maybe by God Himself.
Someone whose presence is so strong that even the ink of my pen is afraid to face.
Someone whose perfum is so captivating that not even the most powerful Maharajah can top.
Someone whose walk amazes all people in the globe.
Someone whose fences were passed long before Man's first step on the moon.
And you, you thought you could be that someone.
I have to congratulate you because you've accomplished one of your so wanted Master Pieces.
But not today.
Baby, today you only got everyone laughing at you.
Laughing so loudly that it burn.
And that burn that is leaving scares in your skin has my name written on it.
Gladly, I was the one who laughed louder. Drink it up
Because this is the night where you will testify a great chapter in the history of Mankind.
Someone has arrived.
The one we all expected for so long.
For so long that we are even tired of hearing and talking about it. But no one could forget.
Not for one second.
Someone with a great figure.
Perfectly shaped, maybe by God Himself.
Someone whose presence is so strong that even the ink of my pen is afraid to face.
Someone whose perfum is so captivating that not even the most powerful Maharajah can top.
Someone whose walk amazes all people in the globe.
Someone whose fences were passed long before Man's first step on the moon.
And you, you thought you could be that someone.
I have to congratulate you because you've accomplished one of your so wanted Master Pieces.
But not today.
Baby, today you only got everyone laughing at you.
Laughing so loudly that it burn.
And that burn that is leaving scares in your skin has my name written on it.
Gladly, I was the one who laughed louder. Drink it up
Monday, March 17, 2008
Inteiramente teu
“Silêncio.
A plateia aguarda ansiosamente o sinal do maestro.”
O pianista entra em palco.
Prepara-se para enfrentar esta plateia e extasiá-la sem dizer uma única palavra, sem precisar de estabelecer qualquer contacto com o seu olhar.
Sentem-se os seus passos, com aqueles sapatos de gala festiva a tocarem no soalho de madeira suave. Esquerdo, direito, esquerdo, direito.
Senta-se.
A plateia acolhe-o com palmas, alguns estão mesmo de pé. É como se lhe dissessem “bem-vindo a casa”.
Ao sinal do maestro, que faz flutuar as suas mãos com toda a paixão, entregando-se e pronto para se perder em frente àqueles músicos, àqueles instrumentos, começa então o concerto.
A medo, cria as primeiras notas.
A plateia ressente-se, como se a sua viagem tivesse começado.
Ao piano, seguem-se o violoncelo, o oboé, o clarinete… Só vêm acrescentar melodia, corpo a esta orquestra.
Violinos.
Os músicos dão-se todos aos seus instrumentos, e os seus instrumentos dão-se todos a eles. Seus companheiros de longas noites de inspiração, companheiros de pautas, notas, arpejos, fiéis amigos.
Acalma.
Os músicos, assim como a plateia, reúnem as suas forças, e inspiram fundo aquelas notas, não há oxigénio nem nenhum outro gás, aquela atmosfera é de música.
A sala está repleta de beleza, paira perfeição e emana sensualidade.
O pianista, embalado, toca um solo, atreve-se a assumir o comando da noite.
O fôlego aperta-se.
O clímax aproxima-se.
Este momento é âmbar. Congelou cada músico, toda a plateia, no eterno.
Do maestro sai toda a música. Fluida, como o grito daqueles violinos, como o chamar daquele oboé e daquele clarinete, o rufar daqueles tambores e como a mensagem daquele piano.
Os instrumentos pedem-no, os músicos pedem-no!
Quando o concerto desfalece e acaba, a plateia sente-se bem, bem. Nova.
Mas não acaba verdadeiramente, aquele concerto vai para casa, no mais intrínseco de cada um!
A plateia, submersa, aplaude de pé.
Os músicos agradecem de pé.
Por favor, outra vez!
A plateia aguarda ansiosamente o sinal do maestro.”
O pianista entra em palco.
Prepara-se para enfrentar esta plateia e extasiá-la sem dizer uma única palavra, sem precisar de estabelecer qualquer contacto com o seu olhar.
Sentem-se os seus passos, com aqueles sapatos de gala festiva a tocarem no soalho de madeira suave. Esquerdo, direito, esquerdo, direito.
Senta-se.
A plateia acolhe-o com palmas, alguns estão mesmo de pé. É como se lhe dissessem “bem-vindo a casa”.
Ao sinal do maestro, que faz flutuar as suas mãos com toda a paixão, entregando-se e pronto para se perder em frente àqueles músicos, àqueles instrumentos, começa então o concerto.
A medo, cria as primeiras notas.
A plateia ressente-se, como se a sua viagem tivesse começado.
Ao piano, seguem-se o violoncelo, o oboé, o clarinete… Só vêm acrescentar melodia, corpo a esta orquestra.
Violinos.
Os músicos dão-se todos aos seus instrumentos, e os seus instrumentos dão-se todos a eles. Seus companheiros de longas noites de inspiração, companheiros de pautas, notas, arpejos, fiéis amigos.
Acalma.
Os músicos, assim como a plateia, reúnem as suas forças, e inspiram fundo aquelas notas, não há oxigénio nem nenhum outro gás, aquela atmosfera é de música.
A sala está repleta de beleza, paira perfeição e emana sensualidade.
O pianista, embalado, toca um solo, atreve-se a assumir o comando da noite.
O fôlego aperta-se.
O clímax aproxima-se.
Este momento é âmbar. Congelou cada músico, toda a plateia, no eterno.
Do maestro sai toda a música. Fluida, como o grito daqueles violinos, como o chamar daquele oboé e daquele clarinete, o rufar daqueles tambores e como a mensagem daquele piano.
Os instrumentos pedem-no, os músicos pedem-no!
Quando o concerto desfalece e acaba, a plateia sente-se bem, bem. Nova.
Mas não acaba verdadeiramente, aquele concerto vai para casa, no mais intrínseco de cada um!
A plateia, submersa, aplaude de pé.
Os músicos agradecem de pé.
Por favor, outra vez!
Sunday, March 16, 2008
Perfeição, bolsos e p*tas
Comprei uns jeans novos.
Daqueles que nos servem como se tivessem sido feitos à medida para nós.
O homem que teceu aquelas linhas, que imaginou aquelas curvas e que coseu aqueles pontos estava a pensar em mim quando o fez.
E por isso ele entregou toda a sua saúde, disposição, cabeça, corpo e mente. Todos os poros da sua pele naqueles jeans.
Mas não são perfeitos, mas só porque o perfeito não existe.
Se existisse seriam aqueles jeans.
Se existisse seria um homem.
Se existisse seria uma mulher, e uma mulher grávida, trazendo vida dentro de si, literalmente.
Mas não há.
Há algo aproximado a isso, pode dizer-se que uma relação perfeita é quando se amam as qualidades e se suportam os defeitos. Estão a ver onde quero chegar?
Perfeição é a ausência de defeitos.
E isso não é do domínio terrestre e humano. É apenas reservado ao divino.
É como televisão por cabo, só quem paga caro pode ver.
Eu voltei a sentir aquele tecido assente na minha pele, e pus a mão no bolso. Quando olhei para o que tinha tirado de lá, para o que estava na minha mão, posso-vos dizer que era tempo. Era tempo, sangue e oxigénio.
P*ta que pariu falta-me o tempo, o sangue e o oxigénio e era lá que eles estavam, no meu bolso!
P*tas, p*tas, p*tas, pelo menos essas!
São o tóxico de uma sociedade, olhadas com desrespeito e tratadas como tal. No seu olhar, no entanto, só restará vergonha e desilusões.Porque no dia em que venderam o seu corpo, tiraram-lhes como se fossem uma promoção a sua força e orgulho.
Daqueles que nos servem como se tivessem sido feitos à medida para nós.
O homem que teceu aquelas linhas, que imaginou aquelas curvas e que coseu aqueles pontos estava a pensar em mim quando o fez.
E por isso ele entregou toda a sua saúde, disposição, cabeça, corpo e mente. Todos os poros da sua pele naqueles jeans.
Mas não são perfeitos, mas só porque o perfeito não existe.
Se existisse seriam aqueles jeans.
Se existisse seria um homem.
Se existisse seria uma mulher, e uma mulher grávida, trazendo vida dentro de si, literalmente.
Mas não há.
Há algo aproximado a isso, pode dizer-se que uma relação perfeita é quando se amam as qualidades e se suportam os defeitos. Estão a ver onde quero chegar?
Perfeição é a ausência de defeitos.
E isso não é do domínio terrestre e humano. É apenas reservado ao divino.
É como televisão por cabo, só quem paga caro pode ver.
Eu voltei a sentir aquele tecido assente na minha pele, e pus a mão no bolso. Quando olhei para o que tinha tirado de lá, para o que estava na minha mão, posso-vos dizer que era tempo. Era tempo, sangue e oxigénio.
P*ta que pariu falta-me o tempo, o sangue e o oxigénio e era lá que eles estavam, no meu bolso!
P*tas, p*tas, p*tas, pelo menos essas!
São o tóxico de uma sociedade, olhadas com desrespeito e tratadas como tal. No seu olhar, no entanto, só restará vergonha e desilusões.Porque no dia em que venderam o seu corpo, tiraram-lhes como se fossem uma promoção a sua força e orgulho.
Wednesday, February 20, 2008
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova
Desafiar-me para me superar
e depois de o fazer vou poder descansar ou celebrar. Depende
Com os meus olhos já fechados,
vou sentir o caminho.
Vou sentir as pedras deste chão,
vou ser matéria e vou para outro lugar.
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova
Porque eu sei os passos de cor
Porque eu aprendi o número de passos exactos que são precisos para chegar a ti.
Só fecharei os olhos e confiarei todos os meus passos aos meus instintos quando tu fores uma certeza segura.
Vou apertar o cinto e sentir a sua segurança
Vou andar de pés descalços. Vulneráveis
Vou caminhar por trilhos, com alguma pressa, pois posso perder o comboio.
E depois de tudo, vou beber um copo ou dois, e celebrar. Embebedar-me.
Porque uma vez bêbedo, vou ter ilusões.
E pode ser que tu, a minha maior ilusão, me apareças.
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova.
E a cambalear pela avenida, vou voltar para casa.
Desafiar-me para me superar
e depois de o fazer vou poder descansar ou celebrar. Depende
Com os meus olhos já fechados,
vou sentir o caminho.
Vou sentir as pedras deste chão,
vou ser matéria e vou para outro lugar.
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova
Porque eu sei os passos de cor
Porque eu aprendi o número de passos exactos que são precisos para chegar a ti.
Só fecharei os olhos e confiarei todos os meus passos aos meus instintos quando tu fores uma certeza segura.
Vou apertar o cinto e sentir a sua segurança
Vou andar de pés descalços. Vulneráveis
Vou caminhar por trilhos, com alguma pressa, pois posso perder o comboio.
E depois de tudo, vou beber um copo ou dois, e celebrar. Embebedar-me.
Porque uma vez bêbedo, vou ter ilusões.
E pode ser que tu, a minha maior ilusão, me apareças.
Vou fechar os meus olhos e por-me à prova.
E a cambalear pela avenida, vou voltar para casa.
Thursday, February 7, 2008
E mais uma vez, uma carrinha de mudanças estaciona ao lado da minha casa.
Traz mais uma família, mais uma vida embalada em caixotes de cartão. “Frágil”.
Quantos livros e filmes é que já foram feitos sobre o vizinho novo no bairro?
Mas quantas pessoas é que podem mesmo contar uma história sobre ele…
Eu entrei num filme. E fui uma das protagonistas.
Ao fim da tarde chegou a grande carrinho branca. Atrás dessa carrinha vinha um outro carro cinzento, estacionou, as portas da frente abriram-se e saiu o casal que parecia ser o dono da casa nova, depois abriu-se a porta de trás e saiu o filho do casal… alto, ambos largos, calções de Verão e t-shirt que deixava ver uns braços musculados e bronzeados. E eu vi tudo da janela do meu quarto, em câmara lenta.
Senti-me uma voyeur e levantei-me depressa e envergonhada, como se alguém me tivesse visto a olhar fixo naquele rapaz.
Até à hora de jantar estava num êxtase sem fazer barulho absolutamente nenhum.
À mesa de jantar tive que me controlar perante os meus pais e o meu irmão.
A companhia tocou um pouco depois da sobremesa… Oh meu Deus!
O meu irmão foi abrir e voltou para a mesa com as visitas… com A visita.
Eu nem queria acreditar que era o rapaz dos calções, e não queria acreditar que ele já conhecia o meu irmão.
Nem preciso de vos contar, já sabem… Foi o habitual.
Rapaz conhece rapariga, trocam-se olhares, o rapaz faz referências subtis e atrevidas à rapariga e por coincidência acabam por passar algum tempo a sós por causa de diversos contra tempos e planos mal explicados.
Completamente filme.
Passámos por vários cenários.
Festas de piscina, festas de praia, o quarto desarrumado do meu irmão, a parede do corredor, sala escura à luz de poucas velas, à luz da fogueira…
Estávamos nas nuvens, gostávamos um do outro e gostávamos de nos esconder… com pressão tornávamo-nos cúmplices e espiões.
À noite, eu ia até à casa do lado. Na noite seguinte, ele vinha até à casa do lado.
O meu mundo desaparecia e centrava-se tudo ali. Cada lugar do mundo era ali, cada pessoa éramos nós, cada pulsação, cada respiração.
E depois, um de nós dois saía pela varanda, à vez…
Uma noite, enquanto esperava que ele chegasse, vi o meu pai sair da porta, e do outro lado a mãe dele a sair.
Encontraram-se e entraram no carro do meu pai para conversar. Pareciam estar a discutir. Eles descobriram-nos!
A mãe dele saiu do carro e o meu pai correu atrás dela.
-Mas ele é meu filho?
Eu não podia acreditar…
- Responde!
A mãe dele olhou para o meu pai e voltou para casa a chorar.
Eu não queria acreditar!
Tapava os meus ouvidos mas já não podia apagar aquilo do meu cérebro! Só queria que o sangue parasse de correr nas minhas veias, queria acordar daquela mentira mas era tarde, muito tarde…
-O que é que se passa?
Ele já tinha subido a varanda.
Corri para ele e abracei-o com força pois aquela seria a última vez que lhe ia poder tocar.
-Miguel, não nos podemos continuar a … a ver.
Ele achou que eu ia de férias e sorriu, “mas nós vemo-nos quando voltares e eu porto-me bem enquanto estiveres fora”
-Não Miguel! Eu... eu já não – não podia dizer aquela mentira tão forte assim e negar que todos os músculos e nervos sensoriais do meu corpo o queriam de volta, mas eu tinha que ser maior que a dor, maior que o amor – eu já não sinto nada por ti.
E vi nos olhos dele que não acreditou, mas saiu por respeito.
E eu saí com ele, pela varanda. Mas estava ali parada, e fiquei.
Com as lágrimas a passearem em mim.
Traz mais uma família, mais uma vida embalada em caixotes de cartão. “Frágil”.
Quantos livros e filmes é que já foram feitos sobre o vizinho novo no bairro?
Mas quantas pessoas é que podem mesmo contar uma história sobre ele…
Eu entrei num filme. E fui uma das protagonistas.
Ao fim da tarde chegou a grande carrinho branca. Atrás dessa carrinha vinha um outro carro cinzento, estacionou, as portas da frente abriram-se e saiu o casal que parecia ser o dono da casa nova, depois abriu-se a porta de trás e saiu o filho do casal… alto, ambos largos, calções de Verão e t-shirt que deixava ver uns braços musculados e bronzeados. E eu vi tudo da janela do meu quarto, em câmara lenta.
Senti-me uma voyeur e levantei-me depressa e envergonhada, como se alguém me tivesse visto a olhar fixo naquele rapaz.
Até à hora de jantar estava num êxtase sem fazer barulho absolutamente nenhum.
À mesa de jantar tive que me controlar perante os meus pais e o meu irmão.
A companhia tocou um pouco depois da sobremesa… Oh meu Deus!
O meu irmão foi abrir e voltou para a mesa com as visitas… com A visita.
Eu nem queria acreditar que era o rapaz dos calções, e não queria acreditar que ele já conhecia o meu irmão.
Nem preciso de vos contar, já sabem… Foi o habitual.
Rapaz conhece rapariga, trocam-se olhares, o rapaz faz referências subtis e atrevidas à rapariga e por coincidência acabam por passar algum tempo a sós por causa de diversos contra tempos e planos mal explicados.
Completamente filme.
Passámos por vários cenários.
Festas de piscina, festas de praia, o quarto desarrumado do meu irmão, a parede do corredor, sala escura à luz de poucas velas, à luz da fogueira…
Estávamos nas nuvens, gostávamos um do outro e gostávamos de nos esconder… com pressão tornávamo-nos cúmplices e espiões.
À noite, eu ia até à casa do lado. Na noite seguinte, ele vinha até à casa do lado.
O meu mundo desaparecia e centrava-se tudo ali. Cada lugar do mundo era ali, cada pessoa éramos nós, cada pulsação, cada respiração.
E depois, um de nós dois saía pela varanda, à vez…
Uma noite, enquanto esperava que ele chegasse, vi o meu pai sair da porta, e do outro lado a mãe dele a sair.
Encontraram-se e entraram no carro do meu pai para conversar. Pareciam estar a discutir. Eles descobriram-nos!
A mãe dele saiu do carro e o meu pai correu atrás dela.
-Mas ele é meu filho?
Eu não podia acreditar…
- Responde!
A mãe dele olhou para o meu pai e voltou para casa a chorar.
Eu não queria acreditar!
Tapava os meus ouvidos mas já não podia apagar aquilo do meu cérebro! Só queria que o sangue parasse de correr nas minhas veias, queria acordar daquela mentira mas era tarde, muito tarde…
-O que é que se passa?
Ele já tinha subido a varanda.
Corri para ele e abracei-o com força pois aquela seria a última vez que lhe ia poder tocar.
-Miguel, não nos podemos continuar a … a ver.
Ele achou que eu ia de férias e sorriu, “mas nós vemo-nos quando voltares e eu porto-me bem enquanto estiveres fora”
-Não Miguel! Eu... eu já não – não podia dizer aquela mentira tão forte assim e negar que todos os músculos e nervos sensoriais do meu corpo o queriam de volta, mas eu tinha que ser maior que a dor, maior que o amor – eu já não sinto nada por ti.
E vi nos olhos dele que não acreditou, mas saiu por respeito.
E eu saí com ele, pela varanda. Mas estava ali parada, e fiquei.
Com as lágrimas a passearem em mim.

Aula de Portugues
Wednesday, January 30, 2008
À primeira vista

Faz as malas e escolhe os teus melhores calções, tratamos da tua pele bronzeada quando chegarmos.
Faremos maratonas de conversas de sol a sol.
Nessa areia que nos faz sentir crianças cheias de possibilidades e sonhos, nessa areia que nos acolhe e abraça.
Mas também há tempestades, há-as sempre.
E de repente, eu não te pertenço mas é como se fosse.
És tão imune, limitas-me.
E tu és o filho de Zeus em pessoa.
Sinto um pudor do tamanho do Olímpo.
Afogo-me a cada vez que me viras a cara.
Afogo-me a cada suspiro.
Tu ris-te de mim mas eu
Tenho as mãos frias e os esforços para as aquecer são inúteis
Leia nos dois sentidos
Saturday, January 5, 2008
Ano Novo
As suas sobrancelhas carregadas, mas que nunca proibiram os seus olhos verdes de brilhar, conduziam agora o olhar para o copo de champanhe.
Como se o que lhe tivesse sido dito lhe tivesse amarrado um forte nó na garganta e trancado os seus ideais - e todos os mundos que vieram com eles - e deitado a chave naquele copo. E a chave estava ali a borbulhar.
Era pesado saber que a tinha desiludido.
Ela porém, estava desapontada consigo própria também. Como é que esperava sempre mais?
Sempre mais uma palavra, se sabia que entre eles nada era tão tradicional assim.
E desapontada ao perceber que, no fundo, ainda lhe exigia palavras e provas, só para a lembrarem que realmente ela tinha um lugar.
Mas não pôde sempre arrancá-las.
Cedeu e rendeu-se àquela forma tão "prática" de ser amada, e não precisava mais de ser lembrada.
Até precisar. Até precisar de mais que actos. Até precisar de explicações. Até precisar de palavras.
Então, roubou o copo de champanhe e bebeu ao seu desejo de se cegar mais uma vez por ser preciso e engoliu a "chave".
A new year's resolution
Como se o que lhe tivesse sido dito lhe tivesse amarrado um forte nó na garganta e trancado os seus ideais - e todos os mundos que vieram com eles - e deitado a chave naquele copo. E a chave estava ali a borbulhar.
Era pesado saber que a tinha desiludido.
Ela porém, estava desapontada consigo própria também. Como é que esperava sempre mais?
Sempre mais uma palavra, se sabia que entre eles nada era tão tradicional assim.
E desapontada ao perceber que, no fundo, ainda lhe exigia palavras e provas, só para a lembrarem que realmente ela tinha um lugar.
Mas não pôde sempre arrancá-las.
Cedeu e rendeu-se àquela forma tão "prática" de ser amada, e não precisava mais de ser lembrada.
Até precisar. Até precisar de mais que actos. Até precisar de explicações. Até precisar de palavras.
Então, roubou o copo de champanhe e bebeu ao seu desejo de se cegar mais uma vez por ser preciso e engoliu a "chave".
A new year's resolution
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