Lembro-me de sentir uma grande vontade de saber toda a sua história.
Tinham já passado alguns meses desde que tínhamos sido (in)formalmente
apresentadas e, confesso, especulei sobre o seu charme e inteligência.
E de repente, ali, sem saber explicar porquê, queria sentar-me com uma
chávena quente de um chá aromático nas mãos e ouvir toda a sua história.
A sensação de que à minha frente estaria o resultado de anos de uma
vida plena e cheia invadiu-me. Certamente conseguia ouvir algumas cicatrizes na
sua voz, só quem já foi calcado pela vida poderia ser obrigado a crescer assim tão
depressa.
Talvez tenham sido os maneirismos tão peculiarmente adultos ou a
maneira como ocupava o seu lugar.
Eramos um grupo de jovens de sangue a fervilhar, prontos a balbuciar o
maior disparate e a delinear o plano mais louco, mas ela não. Penso que talvez
seja então o contraste entre toda a gente naquele grupo e a sua postura que
indicassem uma alma amadurecida.
O cenário que imagino neste preciso momento é de uma tarde de sábado
preguiçosa. Estávamos juntos na sala a conversar e a rir, tranquilos mas com uma
energia pronta a explodir a qualquer momento.
- Devíamos acender a lareira. Disse ela.
Pareceu a coisa mais adulta que alguém poderia ter sugerido naquela
altura. Por sua vez, aquela frase sugeria uma pessoa independente. Senti que
tinha sido transportada 10 anos para o futuro e que aquela seria a sua casa e
nós os seus convidados para o jantar.
Foi este o momento chave que prendeu a minha curiosidade. Como pode
uma coisa tão banal como lenha e fogo cativar-me e despertar em mim o inteiro
interesse?
Depois disso, foi tudo tão rápido que deixa um grande espaço cheio de
saudade.
É fantástico conhecer alguém de quem aprendemos a gostar tanto. Tudo é
novidade, tudo tem uma nova perspectiva e, absolutamente tudo, são detalhes
deliciosos de absorver.
Afinal, não me contou toda a sua história. Fui antes eu quem a
descobriu.
Por a ter decifrado e conhecido em degraus tão perfeitamente
construídos é que talvez consiga explicá-la e entende-la tão bem.
Por outro lado, sempre haverá detalhes que me surpreendem por
completo. Um comentário, uma opinião, um sentimento tímido e mascarado ou só um
gesto imprevisível.
O mais belo
é mútuo. E assim somos nós. Mesmo longe, mesmo sem me olhar, não há outra
pessoa que me conheça tão claramente, para quem seja tão transparente.
Espero que
saibas, assim como eu o sei, que quando te pergunto ou confesso algo, tens a
dose certa de ousadia, tranquilidade e verdade para responder.
Para ti,
para acabar este texto, teria que escrever todo um livro. E nem assim faria
justiça a tudo o que houve, há e ainda está para vir.
Quando penso
em ti, penso em felicidade. Penso em alguém com carácter, com cultura, penso em
amor, penso em verão, penso em singularidade.
Os meus
melhores momentos foram contigo e nos meus piores estavas lá para me amparar
quando e quanto precisei.
Relembrar a
rotina dos nossos dias é só por si uma saudade enorme e espero poder matá-la em
breve.
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