Às vezes é preciso que um conjunto de factores se reúnam para alguma coisa acontecer.
Por exemplo, para eu escrever alguma coisa, passados anos, é preciso apanhar-me numa noite de insónia e com uma música que estabeleça o mood. Calma, tranquila e com uma letra curta, directa e emocional. Se bebesse, seria preciso um bom copo de vinho tinto.
Esta é uma dessas noites, e já são 4h e tal da manhã...
Começo a pensar e a aperceber-me que não me lembro de me sentir realmente completa.
Quer dizer, lembro-me de me sentir feliz, alegre, triste, deprimida, quase a chorar, tão feliz que dei saltinhos ou tão esmagada pelo mundo que só me apetecia passar o dia na cama a olhar para o nada.
No entanto, olhando para trás, sempre me faltou alguma coisa. Será possível?
Quando me sentia rodeada de amigos e caras novas, voltava para uma casa e família em ruínas ao final do dia. Quando me sentia bem sucedida, faltavam-me as pessoas com quem partilho o meu último nome para repartir essa sensação de realização. Quando me perdia nas horas com os amigos a quem chamo família ficava sempre a sensação de que era efémero, como um gosto amargo que não se consegue disfarçar... Que, mais tarde ou mais cedo, iria perder tudo aquilo que era rotina, todas as presenças que me eram tão necessárias para viver, para existir, para funcionar. Quando as palavras e ideias me fluíam constantemente... essa foi a altura em que me senti mais sozinha e só queria crescer depressa para passar tudo à frente.
Mas a vida não é fácil, ou a minha parece não ser, tanto que quando cresci e passei à frente, as palavras e as ideias deixaram de me visitar e, pouco a pouco, é como se o meu cérebro se ajustasse só àquelas palavras científicas, exactas, cruas e objectivas.
Agora, não podia estar mais longe do que era o meu mundo há 6 meses, há um ano... E a diferença entre esses mundos está a começar a pesar.
Pergunto-me, afinal que factores se terão de reunir para me sentir completa? E porque parece tão difícil recolhê-los a todos e apertá-los num abraço bem forte para que nunca mais escapem do meu alcance?
Não sou assim tão velha (em idade) quanto isso mas lembro-me de pensar no que seria o meu futuro e ficar entusiasmada com o que poderia alcançar, com as pessoas que poderia conhecer e os planos que faria com as pessoas que continuariam ao meu lado, como sempre. Pela primeira vez olho o meu futuro a medo. Medo que esta vida me tenha obrigado a partir o meu coração em várias partes e a espalhá-las bem longe umas das outras.
Parece que não posso ter uma coisa sem abdicar das outras e assim o meu corpo vai-se cansando e vai-se anestesiando.
Caramba vida, também não sou assim tão exigente, portanto por que raio me sinto tão incapaz?
Era só para te lembrar que me deste força suficiente para levantar mais vezes do que aquelas que caio e que sempre me obriguei a seguir em frente, mesmo sendo lá à minha maneira estranha e sempre com um preço que, mais tarde ou mais cedo, acabaria por pagar.
Hei-de reunir todas as pecinhas e hei-de me sentir tão completa, tão cheia, que quase rebento...