Thursday, May 30, 2013

C


Lembro-me de sentir uma grande vontade de saber toda a sua história.
Tinham já passado alguns meses desde que tínhamos sido (in)formalmente apresentadas e, confesso, especulei sobre o seu charme e inteligência.
E de repente, ali, sem saber explicar porquê, queria sentar-me com uma chávena quente de um chá aromático nas mãos e ouvir toda a sua história.
A sensação de que à minha frente estaria o resultado de anos de uma vida plena e cheia invadiu-me. Certamente conseguia ouvir algumas cicatrizes na sua voz, só quem já foi calcado pela vida poderia ser obrigado a crescer assim tão depressa.
Talvez tenham sido os maneirismos tão peculiarmente adultos ou a maneira como ocupava o seu lugar.
Eramos um grupo de jovens de sangue a fervilhar, prontos a balbuciar o maior disparate e a delinear o plano mais louco, mas ela não. Penso que talvez seja então o contraste entre toda a gente naquele grupo e a sua postura que indicassem uma alma amadurecida.
O cenário que imagino neste preciso momento é de uma tarde de sábado preguiçosa. Estávamos juntos na sala a conversar e a rir, tranquilos mas com uma energia pronta a explodir a qualquer momento.
- Devíamos acender a lareira. Disse ela.

Pareceu a coisa mais adulta que alguém poderia ter sugerido naquela altura. Por sua vez, aquela frase sugeria uma pessoa independente. Senti que tinha sido transportada 10 anos para o futuro e que aquela seria a sua casa e nós os seus convidados para o jantar.

Foi este o momento chave que prendeu a minha curiosidade. Como pode uma coisa tão banal como lenha e fogo cativar-me e despertar em mim o inteiro interesse?
Depois disso, foi tudo tão rápido que deixa um grande espaço cheio de saudade.
É fantástico conhecer alguém de quem aprendemos a gostar tanto. Tudo é novidade, tudo tem uma nova perspectiva e, absolutamente tudo, são detalhes deliciosos de absorver.
Afinal, não me contou toda a sua história. Fui antes eu quem a descobriu.
Por a ter decifrado e conhecido em degraus tão perfeitamente construídos é que talvez consiga explicá-la e entende-la tão bem.
Por outro lado, sempre haverá detalhes que me surpreendem por completo. Um comentário, uma opinião, um sentimento tímido e mascarado ou só um gesto imprevisível.
O mais belo é mútuo. E assim somos nós. Mesmo longe, mesmo sem me olhar, não há outra pessoa que me conheça tão claramente, para quem seja tão transparente.
Espero que saibas, assim como eu o sei, que quando te pergunto ou confesso algo, tens a dose certa de ousadia, tranquilidade e verdade para responder.

Para ti, para acabar este texto, teria que escrever todo um livro. E nem assim faria justiça a tudo o que houve, há e ainda está para vir.
Quando penso em ti, penso em felicidade. Penso em alguém com carácter, com cultura, penso em amor, penso em verão, penso em singularidade.
Os meus melhores momentos foram contigo e nos meus piores estavas lá para me amparar quando e quanto precisei.
Relembrar a rotina dos nossos dias é só por si uma saudade enorme e espero poder matá-la em breve.

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