Tuesday, September 4, 2007

A CASA DE MADEIRA - III

"A vítima apresenta sinais de tentativa de reanimação no peito..."
João Pedro tinha acabado de ler o relatório do resultado da autópsia da vítima no caso de Raquel Macedo.
No dia seguinte, o advogado de Raquel provava com mestria que as impressões digitais de Raquel no corpo de Bernardo e as marcas de reanimação só podiam apontar para um veredicto: Inocente.
E era assim que Raquel saía do tribunal, e o caso era encerrado.

Jantar à luz de velas, comemorar com champagne... o típico "dinner and a movie".
Raquel esteve mais calada do que o normal e João Pedro, adivinhando o cansaço do julgamento, acompanhou-a à porta mais cedo.
João sentia uma enorme saudade de Raquel naquela noite.
Pensar que a sua vida ao lado dela era agora possível deixava-o exausto.
Tanto horizonte à sua frente... Já sentia o sabor dela ao seu lado TODOS OS DIAS.
O tabaco tinha acabado nas comemorações, vestiu o casaco e palpou o bolso à procura de dinheiro... sentiu um papel.
Mais uma factura, pensou.
Retirou o papel dobrado, era uma carta.

"João, tenho que me ver longe de ti. Não deve haver muitos registos de mulheres que dizem não servir para o homem que amam, ou talvez haja... Bem, não interessa. O que interessa é que, contigo, passei os melhores momentos da minha vida.
No inicio pareceu um amor passageiro, um que talvez preenchesse o lugar que uma casa vazia deixa marcado em nós.
Contigo vivi o inicio desse amor, deixei-me levar por ti até ao auge da nossa felicidade e calor e cumplicidade e agora tenho que afastar o monstro Raquel Macedo que fui no passado de ti, meu amor. Não consigo explicar melhor do que isto: Não mereço enganar-te.
Não a parte que vivemos e que sentimos até este momento mas sim a pessoa que revelo ser no passo seguinte. Quero proteger-te.
O que aconteceu no processo foi o fim da minha auto (e lenta) destruição. Tu juntaste os meus pedaços e fizeste-me viver de novo até aqui: o momento em que me devo castigar pelo que fiz ao ficar longe do homem que amo.
Não espero que compreendas, eu sou louca. Mas não o suficiente para te magoar.
Adeus querido, um beijo."

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