Tuesday, September 4, 2007

A CASA DE MADEIRA - IV

João pousou a carta, limpou a lágrima que escorria pela sua cara mas escapou-lhe outra, mais pesada e triste, ao imaginar a sua vida sem Raquel.
Não! Não, não, não, pensava.
Deve haver uma saída.
Pousou os cotovelos nos joelhos e apoiou a sua cabeça nas mãos.
A vida sem Raquel.
Levantou-se irritado. Como poderia ela fazer-lhe isto? Ela tinha pegado no seu coração com as duas mãos e bruscamente as tinha aberto deixando-o cair, apaixonado, no chão, esmagado por palavras. E ela tinha feito tudo isto brincando!
Avançou até à sala e ia lançar a carta de Raquel na lareira quando viu o retrato dos dois, pousado e numa moldura preta que ela lhe tinha oferecido.
Sentia o calor das chamas a crepitar nas suas pernas.
Baixou o braço e desistiu.
Pela primeira vez, João não ia desistir. Ia correr atrás.
Desorientado, pegou nas chaves do carro e voou até à casa de Raquel, nos subúrbios.
Quando chegou viu luzes e entrou.
Era tarde demais...
Voltou ao seu apartamento, encontrou as suas mobílias, papéis e coisas perfeitamente organizadas todas remexidas, tinha sido assaltado. Tinham levado o perfume de Raquel, as chaves, a roupa, a pasta e escova de Raquel, todas as fotografias e a carta também...
Lá fora, Raquel abria a porta do seu carro, tudo tinha corrido como planeado, tinham-se desencontrado apenas por segundos. Perfeito.
Virou as costas ao apartamento do delegado e nos seus lábios desenhou-se um sorriso, vingativo, cruel e divertido. Entrou no carro, com as mãos no volante, e foi a última vez que passou na rua do apartamento.


FIM

1 comment:

Anonymous said...

adorei esta historia marta! =D
triste, cheia d sentimento... linda!
inda nao tive tempo para o contra argumento... mas vai continuando a escrever q ele mais cedo ou mais tarde aparece!

beijinhooos!
Ana