Monday, April 30, 2007

Historia

Infelizmente eles não encontraram a felicidade.
Um equilíbrio entre o ser dela e o ser dele.
Tão forte e protector, ele abraçou-a em muitas noites que não tinham fim. Uma lágrima caía-lhe enquanto tentava murmurar-lhe o passado mas ele compreendia-a melhor quando ela não o fazia. As suas palavras eram demasiado confusas e contraditórias e por vezes magoavam-no. Um aperto no peito, forte. Muito forte e penoso que, como essas noites, parecia não querer abandoná-lo.
Ela. Ela saía com um aroma perfumado. Único. Saía e quem a via a sentir o cheiro das rosas e túlipas dos jardins da cidade agitada percebia que nesse dia o aperto do seu coração cedia um pouco pela presença dele. Cedia ao olhá-lo devagar e ao devorar as palavras mudas que parecia dizer quando a tocava.
Completavam-se solenemente. Na sua cumplicidade, as noites que chegavam em que ele estava dentro dela eram vias para os dois, juntos, decifrarem novos papiros da pessoa que eram. Códigos humanos.
Era muito mais que uma paixão fugaz, decidiu ela abrindo de repente os olhos, com a sensação de acordar de um sonho doce, embalada nos pensamentos dele. Ali deitada sentia agora uma sensação confortável que lhe dizia que tinha gostado da forma simples como tudo tinha chegado a um fim. Embora ela tivesse chorado noites a fio, apertando a almofada dele contra si. Ainda tinha o seu cheiro. O cheiro que a engolia com saudade.
Mas ele partiu.
Decidiram que o que eram, aquilo em que se tinham tornado, não era aquilo que queriam e ele partiu.
Amo-te, disse-lhe baixinho e virou costas, pegou na mala ao seu lado, levantou-a e virou o rosto na direcção dela para lhe sorrir uma última vez.
Uma brisa suave que entrava pela janela do seu quarto distraiu-a do seu pensamento mas ela voltou forçosamente a ele olhando agora o retrato de um casal em cima da sua mobília moderna e de madeira em branco.
Aquela camisa branca de algodão assentava-lhe de uma forma perfeita, salientando as suas costas e os seus ombros largos. Ela vestia uma blusa verde que lhe dava um ar refrescante e maravilhoso. Depois da sua partida ele pensara muito nela e em como a poderia ter magoado mas ele era muito racional e tinha pensado bastante na sua decisão, antes de sair pela porta. Ele não quis arrastar aquele amor e preferiu preservar os bons momentos. Saiu para evitar maus momentos, mas hoje apercebia-se que o pior dos momentos foi ter alguma vez desistido dela, e agora era pisado pela dor de estar longe daquela mulher que amava. Esmagado todos aqueles longos dias, guardando a dor para si.
Nunca dissera uma palavra sobre a doce Inês para ninguém. Mantinha a ideia de que ninguém merecia ouvir a sua história. Ela ainda se lembrava dele, quando passava o jardim da cidade agitada. E, como ele queria, a imagem mais forte que tinha deixado na nítida memória dela era a do seu adeus, da sua despedida, a derradeira imagem do seu último sorriso. Ele sabia-o porque fitava o quadro que ela pintara do seu rosto, um quadro entre muitos na sala de uma exposição de Inês.
Depois de o olhar intensamente aproximou-se mais e viu o seu nome no título do quadro.
Sorriu.
Ela tinha-o chamado tão pura e simplesmente de “Pedro”.
Pedro, pensou ele, Pedro.
E mergulhou na viagem do seu passado e nas memórias do seu grande amor.
O seu primeiro e maior amor.

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