Tuesday, May 8, 2007

Meros Corpos

Ali estamos. Ela diante de mim. E eu perante ela.
Em tempos fomos cúmplices da mesma alma mas agora apercebo-me que não conheço esta pessoa que me encara com um olhar sobrevoante.
Julgo que algumas mudanças nas nossas vidas marcaram fases que a seu tempo nos tomaram e nos dissolveram em pessoas novas, diferentes.
Para mim ela é agora um mero corpo.
Antes da última mudança que nos lançou um desafio éramos o que cada uma de nós precisava e completávamo-nos. Agora queremos coisas diferentes e seguimos caminhos separados, lado a lado com pessoas que encontrámos e que nos preenchem o vazio que deixámos.
De certa forma todos encontramos “substitutos”, ou talvez sejam eles que nos encontram para nos acompanhar no novo caminho que escolhemos, o que faz com que nada, nada dure um sempre. Um “vou amar-te sempre” é irritantemente falso, mas penso que só a experiência nos traz isso, porque se tentarmos dizer a alguém que está cegamente apaixonado que a sua ideia de amor infinito é limitada e que se as pessoas mudam então não podemos amá-las eternamente sem nenhum deslize.
“Vou amar-te sempre” é remar contra a maré.
Os jovens entregam-se de todo a parceiros que não conhecem intimamente, vivem paixões fugazes e momentâneas de cinco minutos e partem para outra, como se fosse um jogo de toca e foge.
Dizem que tanto hão-de procurar que um dia encontrarão um amor maior que tenha como prazo de validade uma vida, mas é impossível chegar a sentir o sabor a amor perdido se duram o segundo de pestanejar.
Dêem-se às prestações, preservem-se a vós mesmos, tenham a certeza de que só se entregam a alguém que vos conheça por inteiro, mas não percam a vossa intimidade.
Se a perderem serão meros corpos.

1 comment:

Anonymous said...

"não percam a vossa intimidade.
Se a perderem serão meros corpos."

Concordo em absoluto mas avanço e, de certeza concordarás, que se perdermos a intimidade, se perdermos o que temos de mais intrinsecamente nosso, perdemos também a nossa alma!
O amor, seja ele qual for, deve ser vivido como se fosse eterno e único, apesar de termos a dolorosa consciência de que tudo, ou quase tudo é efémero, infelizmente...
Dizes para nos darmos em prestações... mas que essas nunca sejam "suaves" pois acredito que a estrada da vida deve ser uma aventura constante, repleta de sensações e emoções fortes, que pensamos, no momento, insuperáveis.
E, sim, querida amiga (penso poder chamar-te assim, agora), espero que a tua vida seja assim, um caminho de intermináveis e fabulosas experiências!...