Monday, March 17, 2008

Inteiramente teu

“Silêncio.
A plateia aguarda ansiosamente o sinal do maestro.”
O pianista entra em palco.
Prepara-se para enfrentar esta plateia e extasiá-la sem dizer uma única palavra, sem precisar de estabelecer qualquer contacto com o seu olhar.
Sentem-se os seus passos, com aqueles sapatos de gala festiva a tocarem no soalho de madeira suave. Esquerdo, direito, esquerdo, direito.
Senta-se.
A plateia acolhe-o com palmas, alguns estão mesmo de pé. É como se lhe dissessem “bem-vindo a casa”.
Ao sinal do maestro, que faz flutuar as suas mãos com toda a paixão, entregando-se e pronto para se perder em frente àqueles músicos, àqueles instrumentos, começa então o concerto.
A medo, cria as primeiras notas.
A plateia ressente-se, como se a sua viagem tivesse começado.
Ao piano, seguem-se o violoncelo, o oboé, o clarinete… Só vêm acrescentar melodia, corpo a esta orquestra.
Violinos.
Os músicos dão-se todos aos seus instrumentos, e os seus instrumentos dão-se todos a eles. Seus companheiros de longas noites de inspiração, companheiros de pautas, notas, arpejos, fiéis amigos.
Acalma.
Os músicos, assim como a plateia, reúnem as suas forças, e inspiram fundo aquelas notas, não há oxigénio nem nenhum outro gás, aquela atmosfera é de música.
A sala está repleta de beleza, paira perfeição e emana sensualidade.
O pianista, embalado, toca um solo, atreve-se a assumir o comando da noite.
O fôlego aperta-se.
O clímax aproxima-se.

Este momento é âmbar. Congelou cada músico, toda a plateia, no eterno.
Do maestro sai toda a música. Fluida, como o grito daqueles violinos, como o chamar daquele oboé e daquele clarinete, o rufar daqueles tambores e como a mensagem daquele piano.
Os instrumentos pedem-no, os músicos pedem-no!
Quando o concerto desfalece e acaba, a plateia sente-se bem, bem. Nova.
Mas não acaba verdadeiramente, aquele concerto vai para casa, no mais intrínseco de cada um!
A plateia, submersa, aplaude de pé.
Os músicos agradecem de pé.
Por favor, outra vez!

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